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sábado, 4 de dezembro de 2010

Salvaram o Manguezal. Ainda Bem.

Publicado em 03.12.2010, no Jornal do Commercio. Texto: Cleide Alves, da Editoria de Cidades. Foto: Priscilla Buhr/JC Imagem, 01.12.2010.

No mesmo dia em que foi divulgada a intenção da Marinha do Brasil de vender o terreno da antiga Estação Rádio Pina, Zona Sul do Recife, onde o município tem projetos para implantação de um parque público, o prefeito em exercício, Milton Coelho, assinou o decreto de regulamentação da área. O agora denominado Parque Natural Municipal dos Manguezais Josué de Castro tem 320,34 hectares, dos quais 225,82 hectares correspondem a mangue. Proprietária de quase 70% da área, a Marinha colocou 248 hectares à venda, por licitação.
O Decreto nº 25.565/2010, que regulamenta o Parque Municipal dos Manguezais, foi assinado anteontem e publicado na edição de ontem do Diário Oficial do Município. “Esse é um espaço do qual não podemos abrir mão de forma alguma”, afirma o secretário de Meio Ambiente do Recife, Roberto Arrais. Considerado unidade de conservação da natureza, o parque está localizado no estuário dos Rios Capibaribe, Jordão, Pina e Tejipió, entre os bairros do Pina, Boa Viagem e Imbiribeira.
Roberto Arrais explica que a criação do parque depende da cessão do terreno pela União. “Estamos tentando resolver os problemas legais, creio que a Marinha terá sensibilidade. O interesse público é o que move a prefeitura e a Marinha”, destaca. O assunto será discutido na próxima semana, com mediação do Ministério Público Federal. O procurador da República Marcos Antônio da Silva Costa convocará a Marinha e o município para uma reunião.
Com a regulamentação, a prefeitura define o uso do lugar como parque natural, voltado para a contemplação, educação ambiental e patrimonial, trabalhos científicos e turismo ecológico. O decreto permite a construção de edificações de apoio ao estudo científico e estacionamento para as atividades de pesquisa, em áreas já aterradas, com ausência de mangue, mediante análise especial para taxa de ocupação, taxa de solo natural e altura das edificações.
O parque é a maior área de mangue localizada numa capital, em todo o Brasil, conforme pesquisa da oceanóloga Hélida Philippini, que fez levantamento para a sua tese de doutorado em oceanografia pela Universidade Federal de Pernambuco. O promotor Ricardo Coelho, autor do Projeto do Código Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco, acrescenta que a venda dos 248 hectares do manguezal proposta pela Marinha é inconstitucional.
Isso porque, diz ele, o terreno é um patrimônio nacional, considerado Área de Preservação Ambiental (APA). O promotor sugere a criação de uma comissão formada pela Câmara de Vereadores do Recife, prefeitura, Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente e pelos Ministérios Públicos Federal e de Pernambuco para discutir o assunto.
Ricardo Coelho aponta a área como um dos maiores manguezais urbanos do mundo, também caracterizada como Área de Preservação Permanente (APP) pelo Código Florestal, lei federal em vigor desde 1965. O 3º Distrito Naval, com sede em Natal, pede R$ 51 milhões pelo imóvel, no sistema de permuta. A vencedora da licitação (propostas serão abertas dia 21, no Rio Grande do Norte) terá de demolir residências na vila naval de Natal e construir novas para oficiais, suboficiais e sargentos em Natal, Maceió, Fortaleza e Olinda.
Na década de 40, na II Guerra Mundial, norte-americanos instalaram nesse local uma estação de rádio, que depois passou para o controle da Marinha. A instituição manteve serviços de comunicação no lugar até os anos 90.
Desde ontem, o Centro Escola Mangue, em Brasília Teimosa, Zona Sul do Recife, lançou abaixo-assinado eletrônico para tentar impedir a venda do manguezal. Quem tiver interesse deve acessar este endereço e escrever o nome. “Pretendemos fazer um grande ato público com organizações não governamentais. Vamos convocar a sociedade”, diz a professora Luciana Silva, integrante do centro.
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Comento: As áreas de mangue possuem uma extraordinaria e única biodiversidade e formam biomas ímpares. Por todo Nordeste vêm sendo degradadas por outras culturas e atividades produtivas (como criadouros de camarão, por exemplo) e pela especulação imobiliária.
Uma rápida ação como essa da Prefeitura da Cidade do Recife é absolutamente louvável.
Compensa um pouco a bobagem que fizeram na construção do Parque Dona Lindu, em Piedade.

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