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O Cacique Ajuricaba

Quem foi Ajuricaba que me inspirou a usar seu honrado nome?

Foi o grande cacique, morubixaba, chefe ou tuxaua, dependendo do escriba, da tribo dos Manaós, que significa "a mãe de deus", de raiz Aruaque, a qual ocupava uma vasta área em torno de onde hoje ficam as cidades de Manaus e Manacapuru, no estado do Amazonas, na época região de controle da Fortaleza de Santa Isabel do Rio Negro.
Reputa-se que era um grande líder e guerreiro que comandou uma das maiores guerras indígenas de resistência à colonização exploratória portuguesa na Amazônia e no Brasil. Os estudiosos dizem que a origem do seu nome vem corruptela das palavras ajuri (ajuntamento) e caba (marimbondo), ou seja, "ajuntamento de marimbondos". Vê-se que, até por batismo, era indomável e inquieto.
A ocupação lusitana na Amazônia tinha como uma de suas estratégias deslocar populações indígenas para determinadas localidades onde tornava-se mais fácil aos padres catequizá-los e aos colonos utilizar sua mão-de-obra como escravos nos chamados descimentos.
Desnecessário dizer que esses deslocamentos eram feito contra a vontade e que os indígenas não ficavam muito motivados em abandonar suas localidades para trabalhar segundo os hábitos e as finalidades dos portugueses, muito menos em trabalhos forçados. Também havia resistência em trocar sua crença multidivina pela fé dos cristãos, pregada principalmente pelos religiosos da Companhia de Jesus, os jesuítas.
Sempre se verificava o uso da intimidação violenta com a consequente resposta dura e viril dos indígenas.
A excepcional capacidade de liderança de Ajuricaba conseguiu congregar diversas tribos locais, unindo inclusive aquelas já sob domínio dos portugueses.
Grande estrategista, organizou um sistema de vigilância e ataque  que dificultava o deslocamento dos portugueses pelos rios e lagos ao longo da área dos conflitos entre o baixo Rio Negro e o Rio Branco, na divisa com o hoje estado de Roraima.
O Governo do Grão-Pará, que correspondia a todos os estados da nossa região Norte, subordinado diretamente a Lisboa e sediado em Belém mantinha a Capitania do Rio Negro sob sua jurisdição.
As enormes distâncias entre essas localidades e o centralismo da administração de Lisboa dificultava respostas rápidas a Ajuricaba, que sempre soube explorar essa deficiência.
As lutas mais intensas ocorreram entre 1723 a 1727. Com exceção das cercanias da atual Manaus, sob o poder de uma forte guarnição portuguesa, toda a vizinhança era governada pelo tuxaua, mesmo com a brutal diferença de forças e armamentos.
Quando conseguiram finalmente deliberar sobre o ataque final, os dominadores organizaram uma grande investida contra Ajuricaba, liderada por Belchior Mendes de Morais. Um fortemente armado e numeroso exército determinado a conquistar tudo de vez migrou para a região, queimou 300 tabas ao longo do caminho e chacinou mais de 15.000 índios, especialmente os caciques das tribos leais a Ajuricaba, incluindo velhos, mulheres e crianças, de modo a eliminar por completo futuras reações e sentimentos de vingança.
Sobre a captura de Ajuricaba, a versão oficial guarda silêncio. A lenda informa que houve choque violento, próximo a Manaus. De parte a parte, muito heroísmo. Os portugueses a certa altura, depois de batidos em quatro investidas, já principiavam a desanimar, quando um grupo de soldados, completando o cerco, atacaram pela retaguarda. Reza a lenda que Ajuricaba cercado e em renhida luta, viu seu filho, o guerreiro Cucunaça, tão bravo quanto ele, ser morto em combate e lançou-se loucamente entre os inimigos infringindo-lhes várias perdas, antes de ser afinal preso e posto a ferro.
No transporte para Belém, onde seria julgado e certamente condenado à forca, face às inúmeras acusações que haviam contra ele, ainda liderou uma última reação e tentou libertar-se e aos demais guerreiros, ameaçando seriamente a tropa a bordo. Sentindo-se cansado e bastante ferido, para não ser novamente encarcerado, antes de chegar à embocadura do Rio Negro (conhecido hoje como o encontro das águas), mesmo em grilhões, lançou-se às águas do oceano fluvial que tanto amava, perecendo afogado, para frustração dos conquistadores, que o queriam como exemplo para os que reagissem ao seu poder.
Além de Ajuricaba, estavam sendo enviados para Belém mais de dois mil indígenas para serem vendidos como escravos.
Alguns historiadores alegam que Ajuricaba teria ligações com os holandeses, mas o grande historiador pernambucano Joaquim Nabuco nega tal versão.
Ajuricaba se junta a outros precursores da liberdade indígena entre os quais se destacam Poti, Sepé, Araribóia, Tibiriça, Viniambebe, Itagibe, Jaguari e muitos mais; que não nasceram para serem dominados.
Os nascidos em Manaus adotam a forma indígena manauara para identificar sua naturalidade e existem inúmeros equipamentos públicos e privados que levam o seu nome, reverenciando sua memória. Existe uma cidade no oeste do Rio Grande do Sul que também adotou seu nome.
Evidentemente não há registro de imagens sobre o cacique e a ilustração acima é meramente orientativa.
Resta-me honrar sua memória de garra e luta pela liberdade.