Desde os primordios dos tempos que a seca flagela a população nordestina. Como morei por lá minha infância e adolescência e andei muito pelo sertão, posso testemunhar a penúria que cerca as cidades e vilas atingidas pelo fenômeno.
Plantações e criações são dizimadas numa forma de corar o coração. A fome atinge de forma crassa as famílias e a migração é a única alternativa para o sertanejo. Doi. É de fazer chorar. Chega-se a ver crianças "caçando" calangos e outros animais do gênero para tentar se alimentar. Até as aves fogem. Os poetas clamam quando o Acauâ se cala ou seca o Talomi (planta que nasce nos leitos secos dos rios e cujas raízes profundas lhe dão sobrevida). É quando a coisa está muito perto da catástrofe final.
E sempre aparecem os milagreiros aproveitadores com milhares de dinheiros para resolver o problema. Os instrumentos antigos eram o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca - DNOCS e Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE. O DNOCS ainda existe, embora continue inoperante e a SUDENE virou Agência de Desenvolvimento do Nordeste e continua um cabide de emprego e cofre cheio para falcatruas.
Como o sonho megalomaníaco da Transposição do São Francisco só ficará pronto em 2450, muitos milhares de milhões de reais ainda serão enterrados por lá.
No momento, a seca castiga 595 municípios no Nordeste, e atinge 2,5 milhões de pessoas, e por isso, a governANTA corre a acolher os brasileirinhos e brasileirinhas que sofrem na região. Ela está em Sergipe para uma reunião com os nove governadores para tratar de investimentos.
Mas basta saber que o tema mais em moda no nordeste é a informação de que sumiram R$ 312 milhões em verbas contra os efeitos da seca, numa ação controlada justamente pelo DNOCS, cujo orçamento do Dnocs, para este ano, será de pouco mais de R$ 1 bilhão, o que dá mais de 30% roubados.
Só nas Alagoas, a maior obra é uma mini-transposição do São Francisco: o canal do Sertão já gastou R$ 540 milhões. A obra vem desde 1992 e enfrentou ações judiciais, entre elas, por superfaturamento. Na semana passada, o Ministério da Integração Nacional garantiu dois trechos, mas não há data para conclusão do Canal.
Enquanto isso, caminhões-pipa de afilhados de políticos serrergonha bamburram nos esturricados caminhos entre vilas e cidades. E o povo, plantações e animais penando com sede.
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