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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

"...Tudo Que Se Construiu, Desabou..."

A imagem aí de cima é do edifício-sede do Banco Central do Brasil, conhecido em tempos idos como Palácio da Inflação. Arquitetonicamente representa o estado da arte uma beleza rara e de grande presença como referência turística. Como obra de engenharia foi um enorme desafio pela presença de vãos colossais suportados lateralmente, associados à pitoresca leveza estrutural. As lajes de piso são finíssimas, quando comparadas às construções convencionais, o que obrigou a adoção de projetos específicos para móveis e equipamentos de escritório, face à necessidade de redução da carga sobre elas. Mas tudo isso casa soberbamente com a importância que repousa sobre a autarquia: gerir a política econômica, ou seja, garantir a estabilidade e o poder de compra da moeda e do sistema financeiro como um todo. Além disso cabe ao BC definir as políticas monetárias (taxa de juros e câmbio, entre outras) e aquelas que regulamentam o sistema financeiro. O banco faz isso interferindo mais ou menos no mercado financeiro, vendendo papéis do tesouro, regulando juros e avaliando os riscos econômicos para o país.
Para isso, é fundamental que tenha Independência das ações do governo para que, avaliando a conjuntura interna e internacional, possa definir as regras de bom viver entre os organismos financeiros.

O título desse post está entre aspas porque é trecho de um poema de Paulo César Pinheiro musicado por Eduardo Gudim chamado MORDAÇA, cuja execução pública durante os governos militares era proibida. Porém, hoje em dia, reflete toda a ação nefasta desse (des)governo que aí se instalou.
Ontem, contrariando todas as previsões dos analistas financeiros e especialistas em economia, o BC cortou a taxa de juros em 0,5 ponto percentual (de 12,5% para 12%) um movimento arriscado, interpretado como um sinal de que a diretoria da instituição cedeu a pressões. Segundo eles, a redução da Selic, mesmo com a inflação acima da meta oficial, faz crer que a autoridade monetária sucumbiu às investidas do governo, que está preocupado em evitar uma desaceleração muito forte da atividade econômica.
Na segunda feira margarina anunciou aquela baboseira de "aumentar reservas para o superavit primário"como sendo a panacéia solucionadora de todos os problemas do sistema econômico brasileiro. Na terça feira a governANTA ratificou a mesma lenga-lenga em meio às inaugurações de paredes e obras dos outros em Pernambuco. Ambos omitiram que os R$ 10 bilhões são titica perto do que vem por aí com gastos tão elevados e mal feitos por eles, além de terem sido feitos com base num aumento de arrecadação e não em redução de despesas. Só prá comparar, os incentivos do Programa Brasil Fudêncio chegam a R$ 25 bilhões.
Todos os expoentes da economia que li ou ouvi de ontem à noite prá cá, são unânimes em afirmar que há sinais claros de que a crise externa será forte e considera que BC fez uma aposta especulativa na piora do cenário internacional, considerando que os gastos estão muito altos e que não ha nenhum sinal de que se trabalha para reduzí-los.

Fica claríssimo a todos que a independência do BC está, no mínimo, arranhada, pairando fortes dúvidas que seja hoje um órgão auxiliar do Ministério da Fazenda, um grande retrocesso em relação ao que se conseguiu implantar e fazer valer ao longo de anos, com consequências negativas para o crescimento de longo prazo que depende muito da expectativa de estabilidade".
Embora as Otoridades neguem de pés juntos, a política fiscal vai continuar apertada, não só este ano, mas também no ano que vem.

O governo enviou essa semana sua versão do orçamento para 2012, já prevendo impactos enormes nos gastos correntes (despesas do dia a dia), principalmente em gastos com pessoal e Previdência, em função do mega-reajuste do salário mínimo, aprovado festivamente no congresso submisso.
O que está em jogo agora é a credibilidade do BC. Foi a maior das forças de resistência durante a crise de 2008. Há que se esperar a fundamentação técnica de sua decisão na ata da reunião do COPOM, para se avaliar se houve violação da independencia e autonomia do BC, sem ceder a pressões de quem quer que seja. Espero que não. Foi a grande conquista do Brasil desde quando seu presidente foi Armínio Fraga.

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