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terça-feira, 29 de março de 2011

Quem Precisa de Oposição? É Difícil? Vê Se Pode.

Na semana passada, em meio à repercussão do absurdo do blog da Betânia, que serviu de mote para que se debatesse em todas as redes sociais sobre o péssimo uso que se está fazendo da Lei Rouanet, nossa colaboradora Mara Kramer escreveu esse excelente artigo, que mais uma vez temos a honra de sermos convidados a compartilhar. Leiam. Voltamos depois.

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Alckmin pisou na bola feio

Hoje é um dia de indignação! O Ministério da Cultura autorizou Maria Bethânia captar no mercado R$ 1.3 milhões para produzir um blog de difusão de seu trabalho. É ético um artista gastar tanto para colocar um blog no ar em um país como o Brasil? Entretanto o que me chamou mais atenção, e sobre o que quero tratar é a declaração do governador de São Paulo Geraldo Alckmin em visita hoje à Brasília onde disse torcer pelo governo Dilma. Pessoalmente, ainda não havia engolido aquele apoio amplo e irrestrito dos governadores do PSDB ao governo Dilma expresso na Carta de Maceió. A explicação dos governadores, e de Alkmin, era a priorização do pacto federativo. Ora, o pacto federativo, mau ou bem, esta posto, e não é necessário que em uma reunião da oposição ele seja prioridade. O que ficou claro com relação à Carta de Maceió é que o PSDB, no caso seus governadores, não participariam da oposição ao governo exigida pelo eleitorado oposicionista, e responsabilidade de seu partido. Neste caso, o partido estaria dividido em dois: alguns se oporiam e outros não. Como isto funciona não me pergunte. Passado algumas semanas de dita reunião FHC, em entrevista senão me engano a Kennedy Alencar, demonstra seu apreço a Lula, não como pessoa, mas como político. Também em entrevista FHC diz que Dilma começou bem seu governo. Diz isto mesmo depois de todas as negociações de cargo em troca de apoio realizadas pela presidenta, da incorporação de Palocci ao governo, da inação do governo frente ao caso Erenice Guerra o qual por sua importância, pois envolve a própria presidenta, deveria ser prioridade do executivo, da manutenção do aparelhamento de várias instituições públicas, e sobretudo, do significado de ter Dilma como presidente da república. Ou seja, uma pessoa que nunca concorreu sequer a uma vereança, basicamente desconhecida da população, é colocada no cargo mais alto do país pelas mãos de um homem que para alcançar seu objetivo não mediu esforços em termos de uso do dinheiro público e da máquina pública na campanha, da desobediência à legislação eleitoral inúmeras vezes, da ofensa às instituições e aos partidos, da mentira deslavada como foi o caso da "bolinha de papel" atirada na cabeça de Serra no Rio de Janeiro, etc. FHC desconsiderou completamente o que consiste em termos de autonomia do poder o fato, muito bem lembrado por Ferreira Gullar, de termos no cargo mais alto do país uma pessoa que não tem autoridade frente a outrem, no caso o ex-presidente. Temos aí o criador e a criatura, e todas as conseqüências inerentes a essa relação. Ainda assim, FHC só soube apoiar o discurso vigente na época que destacava como maravilhoso o novo governo baseado exclusivamente na discrição de Dilma, ou seja, confundia discrição com competência. Creio que FHC perdeu uma ótima oportunidade de elucidar quais seriam as ações do partido como oposição, não o fez, preferiu agradar o governo. Não encontro os motivos para isto, mas não posso interpretar de outra maneira. Não contente o PSDB, que simultaneamente grita aos quatro ventos que fará (sempre no futuro) oposição ferrenha, lemos hoje a declaração de Alckmin que diz torcer pelo governo Dilma. As palavras textuais de Alckmin foram: “Torcemos por ela, pelo seu trabalho. Ela tem conhecimento das questões de Estado e conhecimento de gestão. São Paulo será parceiro nesse trabalho”. http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/03/alckmin-diz-torcer-por-sucesso-de-dilma-na-presidencia.html Penso que o governador foi muito infeliz em suas palavras por várias razões. Primeiro que esta confundindo torcer pelo país com torcer pela situação, embora não pareça são coisas muito distintas e com conotações também muito diferentes, as quais não devem escapar a um político experimentado como Alckmin. O governador não disse que torce pelo país, deixa claro que torce pelo governo. Segundo, os partidos de oposição constituem-se oposição porque tem uma proposta para o país diferente do(s) partidos de situação, portanto não concordam e não acreditam na eficiência do programa da situação. A oposição deve a partir daí mostrar à população em geral os equívocos desta proposta, segundo sua ótica, na condução do país, assim como as vantagens de seu programa. A oposição é critica ao programa da situação. No momento que um político da oposição diz torcer pela situação ele esta dizendo que espera que sua política seja boa para o país. Como? Ele não pertence à oposição que se diz contrária ao programa da situação? Ele não fez (ou seu partido) campanha contra este programa? Se a política da situação pode ser boa para o país, porque ele não faz parte da situação? Em outras palavras, porque ele se opõe? Em terceiro lugar, se o PSDB, pela voz de Alckmin, entende que a política da situação é capaz de ser exitosa, entendo torcer como desejar que seja vitoriosa, então o PSDB não é oposição. Entretanto, o PSDB e o próprio Alckmin disseram em outras ocasiões serem oposição. Opa! Tem algo aqui que não fecha e que teremos que pensar melhor, mas em outra ocasião para não sair da linha de pensamento deste artigo. Em quarto lugar, Alckmin com esta declaração demonstra explicitamente seu apoio ao governo Dilma, e portanto a tudo o que ele envolve. Alckmin esta assinando embaixo do governo sobre o qual Álvaro Dias em recente entrevista no Twitter disse, “nunca na historia desse país houve tanta corrupção como nos últimos 8 anos”, assim como da incompetência na educação, saúde, segurança, infra-estrutura, etc. Esta reconhecendo a validade da aparelhagem do Estado, do uso de empresas públicas pelo partido de situação, da aliança do partido do governo com as oligarquias, da repressão à liberdade de expressão e busca de monopolização da informação. Diante de tal aberração só podemos concluir que Alckmin e conseqüentemente seu partido estão completamente confundidos com o que é ser oposição e como fazer oposição. Não tem a menor idéia do que isto significa. São “barcos” ao sabor dos ventos que navegam a deriva. Situação cada dia mais preocupante. A irresponsabilidade política da declaração de Alckmin é imensa! A inconseqüência da declaração de Alckmin beira a insanidade! Alckmin não tem noção das conseqüências de seus pronunciamentos como governador do estado mais rico da União, político de destaque e peso no maior partido da oposição do país? Alckmin nunca "escutou" o eleitorado do PSDB que exige do partido oposição constante, firme e profissional? Se é assim em que mundo ele vive? A situação é séria, mas o PSDB continua brincando.

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Achando pouco, o governador de um partido de OPOSIÇÃO, ainda dá uma entrevista na rádio estadão-ESPN e diz que "ser oposição no Brasil é difícil e que o início do governo de deelma é bem intencionado". Ouça AQUI.

Ora governador, nos poupe. É difícil sim, mas tem que ser macho prá assumir esta posição. Perder votações faz parte do jogo democrático, mas tem-se que honrar as calças que veste e os votos que teve. São 44 milhões de eleitores que disseram NÃO à patota que aí está. Se os opositores fincarem posição, reagirem aos desmandos e botarem a boca no trombone, a base alugada será constrangida e desmoralizada perante a opinião pública.

E ainda tem as marcha-ré de Traécio, Anastasia, Teotônio, Pirilo e outros.

Todo mundo querendo ficar bem com o (des)governo federal prá não perder boquinhas e indicações.

Luvinha de pelica, camisas de seda e punhos de renda não ganham votos. Tem que ter sangue no canto da boca senão vamos sempre ter derrotadas as posições liberais que defendemos todos.

O texto da Mara liquida qualquer argumentação.

2 comentários:

DOMINIO FEMININO disse...

Está correto rebelar-se com tantas contradições. Contudo, é preciso ter em mente - com toda tristeza que cabe - que eles se juntam pensando apenas no futuro pessoal deles ( deles, dos políticos ). "Quem sabe amanhã não preciso dela para meu sucesso pessoal na política "? É assim que a banda deles toca para que o povo, imperativamente, dance como usualmente o faz.

Ajuricaba disse...

Comentário feito por David Gueiros Vieira na postagem desse artigo no Grupo Conservadores do Facebook

Ajuricabat,
Já mandei isso para "mil" pessoas. Talvez lhe interesse saber onde andam os documentos não portugueses sobre Ajuricaba. Abandonei o projeto por razão
da idade e saúde.
David Gueiros