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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Os Novos Vendilhões do Templo


Um dos bens mais preciosos de uma democracia é a liberdade de expressão.
Através dessa poderosa ferramenta se mantém acesa a chama da indignação conta atos absurdos da administração pública em todos os poderes e em todos os níveis de governo, sejam nas linhas diretas, sejam em empresas ligadas ao governo.
Ah...Isso vale também para execrar abusos nas empresas privadas, posto que o propósito maior da imprensa é defender a população.
Mas o que se vê Brasil afora é uma imprensa genuflexa, subserviente, vendida, adepta de favores e prestes a elogiar quem quer que seja para receber patrocínios graciosos em seus blogs, colunas e até mesmo emissoras; namorando, quem sabe, um carguinho aqui e acolá.
Mas uma versão vergonhosa ao extremo, deplorável, campeã mesmo; foi a adotada pela imprensa de Pernambuco, referendada pelo próprio Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado e pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Eles tiveram uma "idéia sensacional"; de imediato encaminhada pelo governador Eduardo Campos (PSB) na forma de um projeto de lei à Assembléia; instituinto a meia entrada para jornalistas em eventos culturais (exposições, teatro, cinema, shows e afins).
Claro que ainda existem profissionais sérios que demonstraram sua revolta por vários meios; twitter, blogs, colunas, etc; mas a genial idéia prosperou e teve a maioria da preferência dos consultados numa "pesquisa" do sindicato, onde cerca de 75% dos consultados se mostraram a favor.
A moleza começa com o "profissional" se filiando ao sindicato, mantendo-se em dia as suas mensalidades e voilá, metade do valor dos ingressos.
A presidente do órgão, Ana Cláudia Eloi, deprezando o adequado uso de óleo de peroba, explica que não se trata de privilégio: “A gente entende que o jornalista precisa ter acesso à informação”.
A Fenaj argumentou que “leis como esta não trazem nada de ilícito, ao contrário, devem ser tidas como um benefício para uma categoria que precisa constantemente de informação.”
Bem fala Ricardo Setti quando diz que "qualquer privilégio concedido a um jornalista trabalha contra ele, contra a coletividade dos jornalistas" e, acrescento, contra a própria população que depende de informações isentas paa fazer sua própria opinião.
A busca de informação do jornalista deve ocorrer com seus próprios recursos (e de suas empresas) pois esse é o objetivo de seu trabalho e portanto sua obrigação, não sendo passível de graciosidade de terceiros, muito menos do Estado.
Para cobrir um evento cultural, ou paga ele ou paga seu contratante; ou credencia-se junto com os demais veículos. Se não for trabalho, é diversão e portanto ele que meta a mãozinha no bolso e pague. Fora disso é propina e corrupção meeeeesmo.
Aceitar favor leva à complacência (para dizer o mínimo) da opinião e ao comprometimento da credibilidade.
Onde já se viu um crítico de cinema ou teatro receber entradas dos promotores para avaliar o espetáculo? Ou um analista de gastronomia ceiar de graça em um restaurante? Ou um comentarista de futebol viver às expensas de um clube?
Aí daquele que se fiar em quem quer que seja para tomar uma posição. Hoje não se sabe em quem se pode confiar. Vide o péssimo exemplo da imprensa de Pernambuco.

Fontes: Ricardo Setti, Diário de Pernambuco, Jornal do Comércio/PE

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