Muitos amigos têm me perguntado no tweet e por e-mail sobre a enchente aqui em cima, função dos noticiários que surgem nas principais redes e portais. Embora seja muito prejudicial e incômodo, causando transtornos e desabrigados, a coisa não é tão trágica assim. E seria muito menos se houvesse seriedade dos governantes e administradores públicos no trato com as necessidades da população.
O que vou tratar em relação aos rios do Amazonas, vale para a maioria dos rios da região, inclusive os de calha interestadual. Senão vejamos.
No mapa aí de cima, vê-se uma esteira central azul cortando o estado em direção à Colômbia e Peru. É o Rio Solimões, nascedouro do Rio Amazonas, que só toma esse nome aqui em Manaus, ao receber seu maior afluente, o Rio Negro, formando o fabuloso encontro das águas. Observar que os rios Solimões e Negro se estendem em direção aos Andes através dos dois países citados.
No primeiro semestre, verão no hemisfério sul, o gelo das montanhas derrete e boa parte vem descendo pela montanha e enche as calhas dos rios. O mais poderoso deles é o Solimões: caudaloso, forte e de enorme volume d´água permanentemente, imagine só no período de degelo? Ele cria um efeito de represamento nos seus afluentes elevando o nível de suas águas, além daquelas de suas próprias bacias coletoras. Coincidentemente, inicia-se o período das chuvas (convém que saibam que é no inverno amazônico que chove mais, porque o calor ainda é grande e então há mais evaporação de água, aumentando as chuvas que abastecem os rios.
Veja uma mapa das calhas dos principais rios do Amazonas.
A Amazônia inteira é uma grande planície em essência, com a maioria dos rios apresentando calhas de baixa profundidade. O efeito do volume adicional é o espalhamento nas margens alagáveis, as chamadas florestas de igapó.
Claro que no segundo semestre o efeito é contrário, com as nascentes congelando e as chuvas diminuindo, consequentemente os rios vazando. Esse ciclo é de um semestre mesmo. As águas sobem e descem lentamente, dando margem a se relocar as populações, por sí só ou por meio de remoções emergenciais ou programadas.
Os próprios ribeirinhos sabem disso há séculos e adaptaram suas moradias às subidas e descidas dos rios e lagos onde moram. São as chamadas casas em suporte Palafita.
Para a substituição de ruas, vielas e becos alagados, constroem-se passarela.
Nas barrancas, muitas vezes se encontram construções flutuantes.
Vê-se que há uma adaptação das comunidades ao fluxo e refluxo das águas. As consequências de enchentes do porte de 2012, são muito mais de demora das autoridades em acudir com madeira e outros materiais para os trabalhos, mutas vezes executado com os próprios moradores. Relocações se limitam a áreas ou construções muito específicas, como escolas, igrejas, delegacias, e coisas assim.
No caso de cemitérios inundados, não tenho ouvido queixas dos moradores, mas existem vários casos.
Se alguém fizer a pergunta E porque ficam na beira dos rios se sabem que isso vai acontecer? Simples. Rios por aqui são ruas, avenidas e, principalmente, rodovias. Ficar longe deles é se isolar do que se passa na área. E estamos falando de diferenças da ordem de 13 a 17 metros entre o nível mais baixo e o nível mais alto das águas; sua fonte de alimentação, suprimento e via de transporte. Não dá prá se afastar.
Perdas materiais existem. Lavouras via de regra são perdidas. Mas há que se lembrar que as terras férteis da região são justamente as várzeas, aquelas sujeitas às alagações, posto que o material orgânico depositado sobre elas é que lhes dá fertilidade. Além do que as culturas que praticam são apropriadas ao ciclo das águas. O gado quase sempre é deslocado para terra firme e preservado.
É conviver com isso e, nas grandes enchentes, rezar prá tupã.
É conviver com isso e, nas grandes enchentes, rezar prá tupã.
2 comentários:
Quem vive em condições completamente diferente a de certas localidades costuma se assustar com os noticiários, acontecia comigo quando morava em Cubatão, parentes de outros estados ligavam a cada notícia de deslizamento na Serra do Mar, por exemplo.
Como você disse, Cacique, oremos para que tragédias não ocorram, mas todos nós estamos sujeitos a isso, porém, sempre buscando melhorar as condições de vida das pessoas, aceitando as leis da natureza, mas sem comodismo.
Há que se entender a região, não cacique.O povo é sábio e sabe como viver na Amazônia.Ao governo cabe ajudar sem complicar.
Excelente o seu esclarecimento para que a enchente na Amazônia não sirva de propaganda de governo.
Gostei.
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