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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Cordelista Visitante 3: Começa a Meia-Verdade



“MEIA VERDADE OU MENTIRA INTEIRA?”

Nem só de pão vive o homem
Ensinava o Santo Profeta
Mas também de tarde no circo
Emendou a Roma de César
Um povo de barriga fornida
E um cristão entregue ao leão.
Dá ao povo consciência dormida
E a César o povo na mão

Até nesta Terra Brasilis
Ouvindo atento ao povaréu
Deu-se justa Bolsa Família
Para o pobre, um maná do céu
Só não entende minha cachola
A quem serve o “cristão” ao leão
Se prá “consertar” nossa História
Ou à vingança da frustração?

Lembrei apreçados amigos
Que lutaram a “boa porfia”
Que sem medir preço e risco
Defenderam uma ideologia
A minoria escolheu o caminho
Da luta mais extremada
A maioria o de idéias brandidas
E todos fomos rumo à estrada

Os falcões sempre conscientes
De uma luta sem quartel
Sem regras e humanidade
Sem, inferno, purgatório e céu
De que a guerra de guerrilhas
Não os protegia a Convenção
Que ao exército sem farda e nome
É cair ou derrubar prô chão

Os pombas armaram-se de palavras
Desmedidos em sua ousadia
Só tinham como escudo o peito
A protegê-los da cavalaria
Pelas praças, tribunas e palcos
Seu grito de liberdade ecoava
Legitimo pela Democracia
Que ao milico incomodava

Os que mataram e roubaram
Tinham um ideal diferente
Não me convencem que lutaram
As mesmas causas que a gente
Entre nós não se perfilavam
Os de estranha ideologia
Não os movia ideal democrata
O fazia Marx e “a mais valia”

Das trilhas e caminhos de fogo
Nada ou pouco se sabia
Deles não falavam os jornais
Normal e calma a vida seguia
Nessa luta lhes faltava “massa”
Não se acendeu a ira santa do povo
Faltava a explosão coletiva
Faltava a energia do “novo”

Quando “morriam em combate”
Frustrados na ação armada
Pouco ao país comovia
Sua ignorada “luta isolada”
Desconexa das “demandas“ do povo
Sossegado sob a ordem vigente
Que ao povo só fez avançar
Muito mais que faz hoje essa gente

O que é pro povo Democracia?
Moradia e no futuro esperança
Trabalho e infraestrutura
Transporte e Segurança
Ter eleição democrática?
Prá eleger o que? Zé Sarney?
De que repressão falam eles?
Que diga o povo, que não sei.

Por Lamarca e Marighela
Não choro uma gota vazia
Zé Dirceu, F.Martins e Vanuchi
Guerrilheiros de fancaria
Que no “pega prá capar”
Hora de demonstrar bravura
Se picaram com a viola no saco
Dando “bananas” prá Ditadura

Esgueirado na noite e “por baixo do pano”
Retorna Dirceu com RG fajuto
E a cara nova e insuspeita
Desmascara-se ao receber o Indulto
Da Anistia Ampla, Geral e Irrestrita
Dura negociação dos que aqui ficaram
Agora quer que se reescreva a escrita
E pelas calças lavadas quer um bom reparo

Tampouco respeito Tarso e Brizola
Nem que se me dê muita renda
Quando o buraco foi mais prá baixo
Bombacha virou vestido de “prenda”
Nem mesmo Miguel Arraes
Que pregava insurreição
Esse Pernambuco peitudo
Que correu de parabelum na mão.

Hoje passados quarenta anos
É fácil arrotar valentia
Dizer que com os de pau furado
Tomaram muita ousadia
Que se temos liberdade
A eles devemos tudo
Aproveitam-se do povo cego
Que de memória é surdo-mudo

Nenhum desses reconheço
Como parte da nossa trincheira
Nem Luis Inácio, oportunista
Esquerdista de brincadeira
Só porque por 30 dias
Ficou de férias na prisão
Protegido pelo DOPS do Tuma
Prá ninguém lhe relar a mão

Heróis prá mim de verdade
Covas, Almino, Paiva e Moreira
Que da tribuna do Congresso
Denunciavam a “buraqueira”
Do golpe, repressão e retrocesso
E por isso foram cassados
E de Paiva que ainda hoje se busca
Uma explicação do passado

E Dom Paulo Evaristo Arns
Que quando do “pega geral”
Encarou e mostrou peito
Prá Presidente General
Denunciou morte e tortura
De um Linha Dura ufano
No porão do DOI-CODI falado
Da Conselheiro Crispiniano

Os heróis que homenageio
Foram presos por “convicção”
Mas quem matou e foi morto
Não tem minha lagrima, não
Merece as Honras da Pátria
Quem “de graça” o bem fez
E guerrilheiro remunerado
Aqui não tem farofa e vez

Mas numa coisa insisto
Não justifico torturador
E por questão de coerência
Assassino seqüestrador
Seja de que lado estiver
Quem matou indefeso algemado
Deve apodrecer na cadeia
Prá ficar o passado lavado

Pois é minha gente, eu garanto
Que esta Esquerda aqui se enquadrou
E o tipo que quer de VERDADE
Essa Comissão que Dilma criou
E imitando Y’ Juca Pirama
Sem vergonha do que escrevi
O “palhaço” aqui declara:
VERDADE, MENINOS !!!
.....
EU VI.



Propositalmente no final deste cordel estou postando um excerto falando dos sonhos de futuro, os que nos enchiam nos anos 60. Para os jovens para que os conheçam e para os contemporâneos para que os relembrem e não se esqueçam e também como advertência a todos sobre os “mercadores de sonhos”:

Geraldo Vandré – DISPARADA

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E nos sonhos
Que fui sonhando
As visões se clareando
Até que um dia acordei...
Então não pude seguir
Valente em lugar tenente
E dono de gado e gente
Porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata
Mas com gente é diferente...
Se você não concordar
Não posso me desculpar
Não canto prá enganar
Vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado
Vou cantar noutro lugar

8 comentários:

Zé Carlos disse...

Este é meu mestre!

opcao_zili disse...

Excelente Chumbo. Parabéns. Anistia, é anistia ou devolve indenização e pensão.

Clovis disse...

Literatura de cordel porreta e competente de quem realmente sabe das coisas.
@clovis_s

moimemei disse...

Uma aula de História em versos de cordel...

"Não os movia ideal democrata
O fazia Marx e “a mais valia”

Parabéns Herrrrr Chumbo!

bebethsal disse...

Você é um gênio, cacique!

Anônimo disse...

Por Lamarca e Marighela
Não choro uma gota vazia
Zé Dirceu, F.Martins e Vanuchi
Guerrilheiros de fancaria
Que no “pega prá capar”
Hora de demonstrar bravura
Se picaram com a viola no saco
Dando “bananas” prá Ditadura

MARAVILHA!!!!!!! Bjs, Blue

Marineide Dan Ribeiro disse...

És um poeta e tanto!!!

Maria Amora disse...

Maravilhoso!