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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Bolsa Látex



Deu na Folha de São Paulo de hoje.



Dezenas de milhares de migrantes, principalmente do Nordeste do Brasil, foram deslocados de suas cidades de origem para a exploração dos seringais dos atuais estados do Acre e Amazonas, em alternativa a se engajarem nas tropas de pracinhas que lutaram na Europa durante a segunda guerra mundial.

Eram os chamados "soldados da borracha".

Muito sofrimento passaram na aventura (e desventura). Fome, doenças tropicais, dívidas impagáveis com os seringalistas (donos dos seringais), assassinatos e por aí vai.

Alguns incluiam suas famílias nas contas tentando diminuir seus débitos, o que só aumentava seu sofrimento, incluindo estupros de suas filhas e esposas (e até filhos) pelos seringalistas e seus filhos mimados, prepotentes e arrogantes.

Parte dessa história foi contada, ainda que fantasiosamente na mini-série Galvez o Imperador do Acre, da Rede Globo, mas muito do que apareceu na telinha foi verdadeiro.

Estima-se que cerca de 55 mil trabalhadores passaram por essa privação, entre 1942 e 1946 de modo que o governo brasileiro cumprisse os acordos firmados para o fornecimento de látex à indústria bélica americana, que havia sido privada da produção do sudeste asiático, então sob o domínio japonês.

Então os EUA resolveram à época financiar a reativação dos seringais nativos brasileiros, decadentes desde o final do século 19. No Brasil, a iniciativa foi chamada de "esforço de guerra".

Desde a Constituição Federal de 1988, os soldados da borracha podem requerer uma pensão vitalícia no valor de dois salários mínimos, e avalia-se que haja 12.000 remanescentes dessa tropa.

Pois agora, os seringueiros e seus descendentes pretendem receber quase R$ 800 milhões de indenização dos governos do Brasil e dos Estados Unidos por conta das violações aos direitos humanos sofridas. Dez deles começaram a ser ouvidos ontem (05/04) pela Justiça Federal em Porto Velho (RO), na primeira audiência de uma ação proposta em dezembro pelo Sindsbor (Sindicatos dos Soldados da Borracha e Seringueiros de Rondônia).

Os filiados ao sindicato são cerca de 4.000, com idades entre 83 e 92 anos. A demanda judicial é liderada pelo cearense Claudionor Ferreira Lima, 86, presidente do sindicato e "ex-pracinha", como se intitula. Ele conta que tinha 17 anos quando decidiu se "alistar". Natural de Jaguaruana (a 180 km de Fortaleza), diz que até então nunca tinha visto uma floresta. "Nem sabia o que era uma seringueira", diz. As promessas de bons salários, assistência médica e passagem garantida na volta para casa, porém, escondiam a realidade. "Você já chegava devendo até a roupa do corpo. E nunca terminava de pagar. E, no meio daquele mato, não havia o que fazer", lembra.

Na ação, o sindicato afirma que os acordos para o fornecimento de látex previam uma contrapartida financeira dos Estados Unidos para transporte, assistência à saúde e pagamento aos trabalhadores. O dinheiro veio, afirma o sindicato, mas jamais chegou aos destinatários. "Os soldados da borracha foram esquecidos e o dinheiro sumiu. A responsabilidade é da União e também do governo americano, que não fiscalizou a aplicação dos recursos", diz o advogado do sindicato, Irlan Rogério da Silva. O valor total pedido na ação, R$ 794 milhões, corresponde, segundo o sindicato, a uma estimativa inicial desta mesma compensação aplicada desde 1942. Em contestação apresentada à Justiça, a AGU (Advocacia-Geral da União) disse que a demanda dos soldados da borracha está "sujeita à prescrição" e que danos morais e materiais não podem ser formulados "genericamente".

A ver.

Um comentário:

Anônimo disse...

OLÁ AJURICABA.

ESSE É O BRASIL QUE PRECISA SER CONTADO.

ABS DO BETOCRITICA