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domingo, 4 de janeiro de 2015

UTE Azulão: Um Fiasco Inaceitável

Pensem comigo: eu tenho dois poços de gás natural prontos pra operar, com jazidas inventariadas de bilhões de metros cúbicos; situados a apenas algumas dezenas de quilômetros de uma linha de transmissão em 500 kV com reserva de capacidade de carga, levando a um grande centro cativo de consumo sem concorrência que compra toda a energia elétrica que eu produzir e portadora de cabos de fibra óptica que me conectarão ao  mundo quase que de forma ilimitada.
Junte-se a isso a facilidade de se conseguir terra barata (eu diria, DE GRÁTIS), acesso por rodovias asfaltadas para a construção e manutenção, infraestrutura de engenharia disponível no mercado nacional e dentro dos muros de minha própria empresa, a possibilidade de montar um centro de geração de ponta (ciclo combinado) com rendimento do ciclo térmico da ordem de 70% (um colosso), mão de obra treinada disponível (cerca de 400 empregos diretos)  e com obras de baixíssimo impacto ambiental.
Assim como eu, penso que todos diriam: CHUCHA O PAU, ou mais viralmente, TACA-LE PAU cacique.
Então... Este conjunto de fatores favoráveis existe. Estamos falando da Usina Termelétrica de Azulão (110 MW), situada próxima ao município de Itapiranga/AM, a uns 220 km em linha reta de Manaus, cujo leilão deveria ter sido realizado em 28 de novembro de 2014.
Não precisa ser nenhum especialista do setor para concluir que Azulão é um dos empreendimentos mais competitivos do sistema solar.
Mesmo assim, com toda esta vantagem competitiva, a Petrobras, além de ter sido obrigada pelas suspeitas de corrupção que pairam sobre seus contratos a desistir do leilão. Mais ainda: corre o risco de perder o direito de explorar uma reserva estimada em 4,7 bilhões de metros cúbicos de gás natural, fruto de suas prospecções de 15 anos no meio da Amazônia.
A Petrobras teve que sair do leilão pois a empresa que venceu a licitação para tocar a obra foi a TOYO-SETAL,, envolvida até o pescoço, e sendo até denunciante premiada, nas investigações da Operação Lava a Jato. 
O contrato, na modalidade EPC (Engenharia, Procura e Construção - uma tropicalização do famoso Turn Key; em que a contratada é responsável pelas obras civis, fornecimento de equipamentos, testes e ensaios; com um mínimo de intervenção do empreendedor) era estimado em R$ 540 milhões. e só aconteceria após o leilão.
Com tanta vantagem, a Petrobras já poderia oferecer a energia de Azulão nos leilões subsequentes, respeitados prazos de obra e fornecimento. Uma fábrica de dinheiro. 
Nas cocheiras, se comenta que a licitação para a obra, na modalidade Convite, estava naquela partilha descoberta pela Lava a Jato, e que a Toyo venceu com proposta pouco abaixo do teto da faixa de preços que a estatal estabelece sem o conhecimento prévio dos concorrentes. Todos os outros apresentaram propostas acima desse teto. 
A Petrobras diz que continua desenvolvendo o projeto, cujo prazo de implantação estima em dois anos, mas se demorar muito pode perder uma boa oportunidade de negócio num momento em que precisa de caixa para manter investimentos, reduzir o alto endividamento e enfrentar a queda do valor de suas ações. 
O Plano de Desenvolvimento do Azulão, revisado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) em 2010, a pedido da petroleira, determinou que a futura termelétrica tem que começar a produzir em janeiro de 2017. Para cumprir o prazo, a Petrobras precisaria iniciar a obra agora e já deveria ter vendido a energia no último leilão. Se não conseguir tirar logo o projeto do papel, terá de devolver a concessão do campo à ANP; mais um prejuízo de bilhões pelo prazo de concessão.

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