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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Nóis Pega o Peixe. Ou, Machadão Estava Correto


Aí pelos idos de Maio de 2011, o governo do PT brindou o país com uma daquelas milhares de pérolas com que costuma promover.
Soube-se que, dentro do Programa Nacional do Livro Didático - PNLD, seria adotado em milhares de escolas públicas o livro paradidático "Por Uma Vida Melhor", escrito a vários pares de mãos por "linguistas" da mais alta capacidade vinculados ao partido, a ser aplicado na educação de jovens e adultos.
Além da babita que distribuíram aos apaniguados, absolutamente nada acrescentou ao vernáculo, ao contrário, derrubaram a qualidade, fazendo valer a máxima vigente entre os membros da corja vermelha, se ão conseguimos elevar o nível de qualquer coisa, nivele-se por baixo. Dai resultar em sistemas de cotas porque pobres, negros e pardos não conseguem vagas universitárias; ao invés de investir no ensino público, por exemplo; ou mesmo baixar as notas de corte e acesso em concursos gerais, incluindo ENEM, SISU e assemelhados.
O manual considerava, entre outras aberrações que a linguagem coloquial falada, com todos os seus vícios, erros, imperfeições e modismos; poderia e deveria ser usada na linguagem escrita sem que se entendesse como incorreções.
Na ocasião, foi dito que um jovem usar a expressão "nóis pega o peixe" seria aceitável, posto que essa é a forma como ele se comunica na comunidade que o cerca e que os ajudaria a se sentirem incluídos.
Dezenas de debates e polêmicas depois, fruto da indignação de especialistas e leigos amantes do idioma, a profecia de destruição da língua pátria se confirmou.
Ontem, 13 de janeiro, divulgou-se o resultado do ENEM. DESASTRE: de um universo de 6 milhões de participantes, mais de 529 MIL estudantes tiraram nota ZERO na redação e APENAS 250 cravaram nota DEZ e 35 mil conseguiram atingir pontos entre 900 e 999. De um modo geral, as otas foram 10% inferiores quando comparadas ao ano passado (2013).
A nota da redação se registra entre 0 e 1000 pontos. Parte-se da premissa de que um bom texto deve contemplar cinco competências, cada uma influenciando em 200 pontos, a saber:

1) Demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita.
2) Compreender a proposta do mote e e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.
3) Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações.
4) Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos.
5) Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado.

Junte-se a isto outros eventos memoráveis na sequencial agressão à língua portuguesa como a "simplificação dos textos de Machado de Assis"; cujo academismo parecia inacessível aos mortais; permitindo que fossem lidos pelos energúmenos atuais sem ter que usar o dicionário; ou os escalafobéticos discursos da regovernANTA e do 9 dedos.
O resultado do ENEM reforça a revolta dos amantes do belo idioma com a proposta dos analfabetos que comandam este país desde 2003. É urgente que se faça uma intervenção séria e duradoura no sistema nacional de ensino na tentativa hercúlea de se reverter este quadro.
Mas como ter alguma esperança com um ministro da educação que diz que professor deve esquecer o salário e trabalhar por amor?
Obrigado Dona Ester e Professor Alfredo por me colocarem no caminho certo.... 

Um comentário:

CHUMBOGROSSO disse...

Caro Cacique

Procuro manter o "bom português" em e-mail e até em posts do TT. Alguns criticam dizendo que isso é "preciosismo", ao que respondo, que "emburrecer não é preciso ...".
Sofri como um cão danado para aprender as regras de concordância, acentuação e pontuação ...
Estou muito "velho" para desaprender ...