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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Racionalização X Racionamento


Andei fazendo uns exercícios sobre a composição do consumo de energia usando os dados do Operador Nacional do Sistema - ONS, Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, Câmara de Comércio de Energia Elétrica - CCEE, Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico - CMSE e outros órgãos afins; que fui conseguindo com a ajuda do São Google.
Cheguei à conclusão assustadora que, se forem feitos enormes e caríssimos esforços educacionais e de mudança de hábitos por todas as concessionárias junto a seus clientes, hoje uma economia de energia que seja substancial para permitir ao frágil sistema elétrico brasileiro atender a carga em condições mínimas de segurança, sem apagões, depende mais do consumo nas residências do que na indústria ou comércio.
Senão vejamos...
A partir dos eletrointensivos (as indústrias que têm na energia o maior de seus insumos: siderurgia, cimento, petroquímico, papel e celulose, etc), é notório que fazem análises permanente de seus processos e buscam novas tecnologias para reduzir custos e aumentar as margens de lucro. O fato de serem subsidiadas e serem passíveis de terem maiores aumentos de tarifa, não os assusta, pois se assim o for, mudam para países que os conceda; além de terem sempre a seu lado a ameaça de fim de empregos, redução de divisas, etc, etc. 
Com a sistemática redução de produção nos demais setores industriais com a economia mais fraca, as empresas já cortaram a produção e não têm muito o que baixar. Além disso, a indústria já vem investindo em projetos para combater o desperdício de energia há algum tempo e reduziu o consumo nos últimos quatro anos pra poder balancear as garantias de manutenção de empregos que deram durante o período de incentivo fiscal que receberam. E ninguém vai investir em tecnologia pra reduzir custos em épocas de incertezas tão altas.
O setor comercial pode contribuir um pouco. Shoppings Center, supermercados e grandes magazines podem atacar seus programas de operação dos grandes "gastadores de energia", como ar condicionado, centrais frigoríficas, iluminação de salões e estacionamentos, etc. 
Antes de abordar o consumo residencial, onde pretendo apresentar minha tese, quantifico o perfil de consumo por classe no Brasil, para facilitar o entendimento:

  • Industrial    --> 37%
  • Comercial   --> 16%
  • Residencial --> 28%
  • Rural           --> 5%
  • Outros         --> 14% (Iluminação Pública, Consumo Próprio, Serviços Públicos)



Destaco aqui que a importância do setor residencial é enorme no perfil de consumo brasileiro.

Sendo bastante otimista, tomando como base o trabalho que fiz no passado com Conservação de Energia em todas as áreas de consumo, na situação atual do parque industrial e do sistema comercial, fazendo um grande esforço e com muita participação do lado das empresas, dá pra reduzir uns 5% no setor industrial e uns 20% no setor comercial.
Ainda trabalhando com números redondos, tem-se hoje uma ponta de carga da ordem de 85.000 MW para uma capacidade instalada de geração da ordem de 130.000 MW.
Pelo porte das usinas instaladas e da interligação existente entre sistemas, é razoável se pensar que se tenha indisponível por necessidade de manutenção, algo em torno de 10% da capacidade girante (tudo que se pode dispor ao mesmo tempo); ou seja tem-se sempre 117.000 MW para fazer frente a uma ponta de carga de 85.000 MW, o que significaria uma reserva de 32.000 MW ou 27%.
Considerando o estágio atual dos reservatórios e a participação da geração hidráulica, temos que considerar uma redução de uns 20%, no mínimo, na capacidade de geração.
Neste caso e ao final, teríamos 93.000 MW disponíveis para uma ponta de carga de 85.000 MW, considerando que a tendência é que se mantenha a carga máxima já registrada, ou seja, a reserva é de apenas 8.000 MW; apenas uns 9%, o que é muito pouco.
Trabalhando com muita competência (o que não é o caso do atual governo) e com uma extraordinária resposta de educação  da população (o que também é difícil de se acreditar) num tempo de resposta compatível com a evolução do conjunto carga X geração (o que sabemos ser praticamente impossível, com a letargia patente de ambas as partes envolvidas) pode-se pensar em dobrar a reserva reduzindo o consumo na faixa residencial. Seria algo como tentar fazer uma economia de 30% em média por residência, o que comprova o que quero demonstrar: a carga maior de redução cairá sobre o consumo residencial. 
Com os "incentivos fiscais eleitorais" da regovernANTA, a população mandou o pau e comprou ar-condicionado para em todos os cômodos, máquina de lavar, secar, fazer pão, panela elétrica pra fazer arroz, forno de microondas, trocentas TVs de LED, etc. Tudo isso é muito prático, traz muito conforto, mas somando tudo, o resultado é mais consumo de energia. E agora que se acostumou a isso vai ter que perder. O desafio é saber usar sem exageros.
O outro lado da mesma moeda é INVESTIR em tecnologia. Trocar lâmpadas para unidades LED, trocar bombas d´água de condomínios e eletrodomésticos por equipamentos de melhor rendimento e menor consumo. Mas como, se estamos endividados até o pescoço?
Tem mais. As famílias ainda têm o hábito de não se desfazer do que é antigo. A geladeira nova está aí, e na área, a velha, ligada na varanda.
Como educação não é nosso forte, já viram que a coisa vai feder...
Possível é, mas requer verbas enormes para campanhas educativas e tempo para a população absorver os conhecimentos e ensinamentos.

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