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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Seca: Ótima Oportunidade de Negócios

Com Informações do Jornal do Comércio - Recife
 
Depois de perder dois gados, a sertaneja de Solidão teme pela vida dos seus últimos animais
Cisternas feitas de polietileno  foram adquiridas pelo Ministério da Integração Nacional (MIN) como parte da ação do programa Água para Todos para atender as famílias da Região Nordeste. Na primeira pegada, foram 60 mil unidades em novembro de 2011 por R$ 210 milhões, numa licitação prá lá de suspeita e que teve como única concorrente a empresa mexicana Dalka e foi realizada pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF), que também coordenou os pregões eletrônicos para contratação das empresas responsáveis pela instalação em oito estados da região Nordeste e em Minas Gerais. Em Pernambuco, a Engecol, sediada em Petrolina, terra do ministro Fernando Coelho, ganhou a concorrência para instalação de 22.679 cisternas. Por acaso, é de propriedade do empresário Carlos Augusto de Alencar - irmão da vereadora reeleita e ex-presidente da Câmara Municipal de Petrolina na gestão passada, Maria Elena de Alencar, do mesmo partido de FBC, o PSB. Em agosto de 2012, o jornal Folha de S. Paulo publicou matéria informando que o empresário Carlos Augusto de Alencar fez doações, no valor de R$ 84 mil, para as campanhas de Maria Elena e para o filho de FBC, Fernando Filho, nas eleições de 2004 a 2010. Em 2012, quando as eleições ocorreram após a publicação da matéria, nenhuma doação foi registrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Acontece que as benditas cisternas que poderia atenuar a tragédia das cidades e regiões isoladas estão literalmente derretendo sob o sol forte, acumuladas desde setembro em um terreno na entrada do município de Solidão. Uma verdadeira tortura para os moradores que transitam todos os dias pela cidade, na expectativa de serem contemplados com uma delas.
"As cisternas se acabando lá no sol e a gente precisando. Pra que o Governo mandou aquilo?". O desabafo é de dona Damiana Antônia de Souza Félix, 55 anos. Ela mora com a mãe de 90 anos, a irmã e um sobrinho no Sítio Jardim de Fora, área rural do município de Solidão, no Sertão do Pajeú, distante 411 km do Recife. Todos os dias, desde que a cacimba da sua casa secou há cinco meses, Dona Damiana precisa caminhar cinco quilômetros até encontrar um dos últimos poços com água na região, ainda assim salobra. A água - levada para casa em latões por um jumento que, por não ter o que comer, "já anda cruzando as patas", como ela definiu - mal dá para beber, cozinhar e tomar banho. Sobrevivendo em meio à pior seca no Nordeste brasileiro dos últimos 40 anos, não consegue entender o motivo de centenas de cisternas, que poderiam mudar a realidade de várias famílias, estarem
Somando os valores da compra da cisterna de polietileno e da instalação, cada unidade custou em média R$ 5.090 para os cofres públicos, quase o dobro do preço das cisternas de placa (alvenaria), até então únicas construídas no País por ONGs que recebem apoio financeiro do Governo Federal. Cerca de 500 mil cisternas de placas, que custam em média R$ 2.500, já foram construídas no Brasil. Alegando que, apesar de mais caras, as cisternas de polietileno são mais duráveis, resistentes e, principalmente, mais rápidas de ser instaladas - tendo em vista a urgência das famílias que enfrentam a seca -, o Ministério da Integração Nacional optou em adotar essa nova tecnologia. O problema é que a "rapidez" prometida pelo órgão não saiu do papel. Sem contar a geração de empregos, coisa rara no nordeste.
O programa deveria ter sido concluido no último mês de agosto. Pois até agora a Dalka ainda nem concluiu a fabricação e a entrega de todas as unidades, e as empresas contratadas para a instalação estão com serviços atrasados. Por diversos locais se ouve apenas queixas dos moradores sobre a demora na entrega das unidades e se vê centenas de cisternas acumuladas em terrenos, expostas ao sol. Uma montanha de plástico cinza em meio ao solo batido do Sertão.
Mesmo com o serviço atrasado, em dezembro o MIN permitiu um aditivo de R$ 21 milhões para empresa Dalka para aquisição de mais seis mil cisternas, para  "contemplar novas famílias que foram incluídas no programa", disse o diretor nacional do programa Água para Todos", Sérgio Duarte. Claro que o novo prazo para entrega e instalação das agora 66 mil cisternas foi prorrogado para o final de fevereiro de 2013, sob o argumento que "o atraso foi provocado pela decisão, por uma questão de logística, da fabricante Dalka construir fábricas próximas aos estados contemplados com as cisternas em Petrolina-PE, Penedo-AL, Teresina-PI e Montes Claros-MG.
Várias cisternas defeituosas, podem ser vistas em frente à fábrica da Dalka no parque industrial de Petrolina. O defeito foi provocado por um erro de cálculo estrutural e detetado em março de 2012.
Além de não fazerem, ainda causam prejuizo. Uma das 19 mil já contempladas com a cisterna em Pernambuco, dona Noemia Pereira Neves, 56, informa que no dia em que a equipe da Engecol deixou a cisterna em frente à sua casa, localizada às margens da PE-275, em Albuquerque Né, distrito de Sertânia, a 316 km do Recife; deu uma ventania fez a cisterna rolar, atravessar a pista e atingir o muro do vizinho. "Vou ter que pagar o conserto do muro, que deve ser pelo menos uns R$ 150. Além disso, a equipe da Engecol deixou a cisterna aqui e pediram para fazer o buraco, prometendo retornar em uma semana. Até hoje ela aguarda. Em dezembro, a dona de casa que, sem parente que pudesse fazer o buraco, precisou pagar R$ 200 para um vizinho realizar o serviço
Cisternas recolhidas pela Dalka e deixadas em frente à fábrica da empresa, em Petrolina










O NE10 encontrou cisternas
 


 

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